Atuação do Psicopedagogo na Análise do Comportamento Aplicada (ABA)
A aprendizagem é um processo cuja matriz é vincular e lúdica, e a criatividade surge a partir da articulação da inteligência com operações estabelecedoras. (Fernández, 1991). As operações estabelecedoras (OE) são variáveis que alteram a efetividade reforçadora ou punitiva de um evento ambiental, e a frequência da ocorrência da resposta no repertório do indivíduo, (Miguel, 2001), ex: a sensação de fome pode ser uma OE para a resposta de ir ao restaurante e comer.
A psicopedagogia é uma área de atuação que lida com questões referentes ao processo de aprendizagem e surgiu da junção de conceitos entre a psicologia e pedagogia, atuando no diagnóstico, prevenção e tratamento de dificuldades relacionadas ao aprender. Aprendemos daquele que outorgamos confiança e direito de ensinar. O psicopedagogo deve perceber o indivíduo como um todo: orgânico, corporal e intelectual para assim conseguir intervir, (Fernández, 1991).
A atuação deste profissional é servir de mediador, e assim, atenuar e extinguir os problemas inerentes da defasagem de aprendizagem, levando em consideração seu repertório filogenético, ontogenético e cultural, (Nemitz, 2009).
O psicopedagogo que fundamenta a sua intervenção na ABA de antemão deve realizar uma avaliação dos comportamentos alvos e que possuam relevância social para fazer parte do Planejamento de ensino individualizado (PEI) e assim, focar nos objetivos e nas estratégias de ensino, buscando respaldo nas sete dimensões da ABA que garantem as evidências cientificas dos dados:
Segue abaixo as sete dimensões da ABA descritas por Baer, Woelf e Risley, (1968).
- Conceitual – A mudança comportamental carece de procedimentos derivados dos princípios da ABA, o que promove o desenvolvimento de novos procedimentos para a área.
- Tecnológica – Os procedimentos e técnicas devem ser descritos de forma clara para que o profissional consiga implementar a intervenção.
- Efetiva – Produz resultado desejado e melhora o comportamento.
- Aplicada – Seleciona os comportamentos socialmente relevantes, buscando melhorar a qualidade de vida da pessoa e dos indivíduos presentes em seu entorno.
- Comportamental – O comportamento é o objeto de estudo, sendo passível de observação e mensuração.
- Produz generalização– O comportamento sofre generalização, sendo emitido em outros contextos fora do ambiente de aprendizado.
- Analítica – A mudança no comportamento é resultado de uma intervenção, para isso, o profissional precisa avaliar se existe controle experimental e descobrir se foi a intervenção que mudou o comportamento.
Estabelecido o PEI, lições são implantadas a fim de garantir a aplicabilidade dos objetivos, visando a ampliação do repertório comportamental do indivíduo e diminuição/ou extinção das barreiras comportamentais que impedem o desenvolvimento, (LaFrance, 2021).
Vale frisar que cada cliente é único e tem necessidades especificas, sendo o PEI intransferível de um cliente para o outro, podendo apenas apresentar semelhanças. E os objetivos devem ser pertinentes com comportamentos socialmente relevantes, baseando-se na aprendizagem hierárquica cumulativa, (LaFrance, 2021).
Deste modo, o PEI deve iniciar com os Cusps (comportamentos que consistem em mudanças futuras no repertório comportamental do indivíduo), dado que são pré-requisitos e favorecem o comportamento generativo e o desenvolvimento de novas respostas. Por exemplo: A mãe nas primeiras sessões comenta que gostaria que seu filho iniciasse o comportamento de escrever, porém este filho não consegue segurar um lápis para realizar um tracejado simples, por isso, o profissional deve focar nos Cusps para exercitar a coordenação motora fina e posteriormente desenvolver o comportamento de escrever.
Por fim, para determinar se uma habilidade precisa ser incialmente implantada ou não, o clínico deve estabelecer objetivos de curto, médio e longo prazo, e estes devem seguir uma série de etapas até atingir a complexidade do comportamento final, (LaFrance, 2021).
Escrito por: Juliana Prado – psicóloga e psicopedagoga
Revisão: Tatiana Serra – psicóloga e fundadora do Núcleo Direcional
Referências
Baer, D. M., Wolf, M. M. e Risley, T. R. (1968). Some current dimensions of Applied behavior analysis. Journal Of Applied Behavior Analysis. 1 (1), 91-97.
Fernández, A. Inteligência Aprisionada: Abordagem Psicopedagógica Clínica da Criança e sua Família. (1991). Artmed.
LaFrance, D. (2021). Planejamento de intervenções individualizadas. 4º encontro Brasil e EUA de autismo, no formato on-line.
Miguel, C, F. (2001). O conceito de operação estabelecedora. Na Análise do Comportamento. Psicologia: teoria e pesquisa. 16 (3).
Nemitz, M. D.. O fracasso escolar como objeto em disputa: memória e conhecimento. In: Nemitz, M. D. Um estudo sobre o ciclo da vida do periódico Psicopedagogia – Revista da associação Brasileira de Psicoperdagogia (1982-2006). São Paulo, 2009. 32-58.
O Direcional é um centro de atendimentos para crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) e outras alterações do neurodesenvolvimento.
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